domingo, 1 de novembro de 2009



Alergia alimentar na criança.




Alergia alimentar é uma reação adversa às proteínas dos alimentos, gerando uma série de sinais e sintomas. De acordo com o tipo de alergia as reações podem ser imediatas ou tardias.



Nosso sistema gastrointestinal está permanentemente em contato com partículas e substâncias estranhas, desde o nascimento.Pela boca, introduzimos no nosso tubo digestivo alimentos com nutrientes que também trazem consigo bactérias, fungos, parasitos e partículas alergênicas de grande variedade.

O bom funcionamento imunológico e a integridade do sistema digestivo promovem a seleção e modulação dos nutrientes que passam pela mucosa digestiva para a corrente sanguínea e daí para todas as células do organismo, impedindo que estas partículas nos agridam. Sendo assim, acionamos mecanismos de defesa que regulam a passagem de substâncias alergênicas, protegendo- nos contra a alergia, ao que chamamos de tolerância oral.

Na infância, principalmente nos primeiros meses de vida, o momento em que o organismo está em amadurecimento, fatores genéticos e exposição precoce aos alimentos alergênicos podem desencadear reações imunológicas e desenvolvimento de alergia alimentar.

A alergia alimentar na criança tornou-se um diagnóstico freqüente por causa do desmame precoce e da introdução de alimentos inadequados, muito cedo, na dieta da criança, já nos primeiros meses de vida.

A prevalência de alergia alimentar , de acordo com a literatura médica internacional, é de aproximadamente 6% em menores de três anos e 3,5% em adultos. Entre crianças com outros tipos de alergia ou com história familiar de alergia a incidência pode ser de até 25%.

A alergia ao leite de vaca, ao ovo, trigo e soja, são as mais freqüentes e tendem a desaparecer na infância. Mas a alergia ao amendoim, nozes e frutos do mar podem ser por toda a vida.

O aleitamento materno prolongado previne a alergia alimentar favorecendo o amadurecimento imunológico das estruturas do tubo digestivo, e ainda proporcionando ao lactente todos os nutrientes necessários ao seu crescimento e desenvolvimento. A alimentação complementar deve ter início apenas aos 6 meses de vida, de forma gradual.

No caso de crianças que não estão sendo alimentadas com leite materno, o alimento substituto costuma ser fórmula infantil à base de proteína no leite de vaca, sendo portanto esta, a primeira proteína com a qual a criança tem contato e portanto a alergia alimentar mais comum.

Os sintomas da alergia alimentar na criança, dependem do tipo de alergia: Imediata ( mediada por IG-E) ou Tardia ( não mediada por IG-E) ou Mista. No primeiro caso os sintomas podem ocorrer até 2 horas após a ingestão do alimento e cursam com urticária ( placas avermelhadas na pele), angioedema ( inchaço de lábios, língua orelhas e face), tosse, rouquidão e nos casos mais graves, anafilaxia. Na reação tardia os sintomas ocorrem após um período maior e podem cursar com diarréia crônica, diarréia com sangue, dificuldade de crescimento, anemia, doença do refluxo gastroesofágico que não melhora com o tratamento habitual, constipação intestinal severa, dermatite atópica.

O diagnostico da alergia alimentar é clínico, baseado na história da doença: retirada do alimento suspeito da dieta com substituição por outro de igual valor nutricional por um determinado período havendo melhora dos sinais e sintomas. Reintrodução do alimento, quando então haveria desencadeamento dos sinais e sintomas anteriores. Na prática, nem sempre isto é possível pelo perigo de desencadeamento de reações severas em crianças com alergias graves ou risco de agravo nutricional naquelas com déficit de peso já instalado.

Os exames laboratoriais que podem complementar o diagnóstico e auxiliar no acompanhamento do quadro alérgico são a pesquisa no sangue de anticorpos da classe IG-E específicos, contra alergenos alimentares : proteínas do leite de vaca, soja, ovo, trigo e peixe, sendo úteis na alergia alimentar mediada por IG-E, aquela que cursa com reações imediatas( edema de lábios e língua, vômitos, urticária e choque anafilático) e nas alergias mistas, não tendo indicação nos casos de pacientes que tem sintomas alérgicos tardios. Até o momento não contamos com métodos laboratoriais que apontem com segurança o alergeno alimentar, definitivamente.

O tratamento da alergia alimentar na criança, é basicamente nutricional, sob dois aspectos: #exclusão do alergeno alimentar responsável pelo quadro clinico da criança e # a utilização de alimento substituto com proteína de alto valor biológico e baixa alergenicidade como as fórmulas infantis especiais para lactentes constituídas de proteína extensamente hidrolisada ou fórmulas de aminoácidos.

A prevenção da alergia alimentar na criança, é sem dúvida o Aleitamento Materno exclusivo até o sexto mês de vida, com introdução de alimentação complementar a partir de então, gradualmente, sob orientação do Pediatra assistente. O Leite materno contém todos os nutrientes necessários ao crescimento e desenvolvimento da criança, fornece anticorpos que protegem a criança contra doenças e alergia alimentar, previne e minimiza os efeitos no refluxo gastroesofágico, permite evacuações normais, aumenta o vínculo materno-infantil, já está pronto, aquecido na temperatura ideal, na quantidade ideal, e vai do produtor ao consumidor sem intermediários.







Fontes: Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar – ( SBP e ASBAI – 2007)

Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition 2001;33:602-605















Dra Claire Tesch .



Especialista em Pediatria pela Universidade do Rio de Janeiro (UNI-RIO) , Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Associação Medica Brasileira (AMB).

Especialista em Gastroenterologia Pediátrica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Membro da Associação Brasileira de Nutrologia ASBRAN)

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